Pintar quanto antes:
a exploração criativa da ação conveniente no atelier de pintura do Pisão
Artigo de José Manuel Resende e José Maria Carvalho, publicado na Revista AntroPolítica, em 2022.
Resumo:
No decurso de uma pesquisa etnográfica desenvolvida em contexto de institucionalização devido a patologias do foro psiquiátrico, pudemos constatar que a prática artística, nomeadamente a pintura, desempenha um papel importante no processo de capacitação para a autonomia dos residentes internados. Com efeito, a tendência das políticas públicas das últimas décadas tem privilegiado o regime de envolvimento em plano junto das populações mais vulneráveis. Assim sendo, caberá aos técnicos profissionais identificar o grau e natureza da dependência em causa e atuar em conformidade, visando a autonomização destas. Partindo do caso de um pintor abstrato, Leopoldo, e recorrendo a algumas anotações de Diário de Campo, ensaia-se uma análise pragmaticamente inspirada acerca da variedade de envolvimentos presentes nas situações em que a atividade da pintura se desenvolve. O caso de Leopoldo mostrará que, contrariamente ao gesto de pintar, no qual revela autonomia, há inquietações e dificuldades, antes e após a pintura, em torno da utilização dos materiais necessários, que pertencem à instituição. A coexistência, transições e articulações entre esses vários envolvimentos na experiência pictórica é o leitmotiv do texto que se segue.