Pelas portas de vidro da internet:

Pelas portas de vidro da internet:

As examinações (in)comensuráveis da figura do estrangeiro


Artigo publicado por José Manuel Resende & Lucas Freitas de Souza, em 2019, na Revista Desenvolvimento e Sociedade.


Resumo:

Pensar a internet como uma porta de vidro, permite-nos conjeturar o que se passa do outro lado. Concebida a partir da metáfora porta de vidro enxergamos um mar de informações que nos levam a produzir sensações sobre o que se passa daquele outro lado. Somos presenteados com a possibilidade de avistar o outro através daquilo que ele ali posta com mais ou menos frequência. Por vezes somos privados de sentir o que realmente acontece na alteridade do ser que por ali navega através dos seus registos. Imagens, ora límpidas ora turvas, constroem uma realidade pluriforme. O ruído produzido pela internet acaba por gerar diversos sentimentos naqueles que, do outro lado da porta de vidro, olham atentamente para aquilo que ali tem estado a ser assinalado. Os exercícios interpretativos nem sempre resultam em acordo. Gestação de equívocos pode ser um daqueles resultados. Seja quais forem as gramáticas de razões ancoradas nas discórdias e em disputas vocabulares é sobre os seus efeitos atuantes que reside o nosso foco neste artigo. São vozes que se levantam, expondo os seus juízos e qualificações sobre os estrangeiros, mas outras tantas evitam entrar na conversa por meio da escrita, ou delas se desligam mostrando-se indiferentes às controvérsias entre o enfurecido e o manso. Assim, o artigo pretende analisar a representação construída pela figura do estrangeiro nas redes sociais em Portugal na peugada da listagem das (des) qualificações desenhadas nos textos sobre o outro que chega. É só da reciprocidade angular permitida pela porta de vidro que assenta os efeitos das trocas produzidas na Internet ou através da porta as circulações dão azo a travessias na ponte?

As flores do mal

“As flores do mal”:

A experiência da denegação do outro generalizado na internet


Artigo publicado por José Manuel Resende & Lucas Freitas de Souza, em 2019, na Revista Estudos de Sociologia.


Resumo:

Em proporções jamais vistas pela humanidade, a chegada da primavera árabe enfatizou o debate a respeito das migrações forçadas. O tema, agora em voga, são os refugiados. Fugindo do caos dos conflitos armados, são as flores de uma primavera de sangue e dor. Em busca de melhores condições de vida, mais de 68 milhões de pessoas migram de forma desordenada por todo o globo. A fuga deste conflito acaba por trazer à tona um novo conflito para seus atores. O partir, o chegar e o permanecer são agora o problema. Questões de acolhimento e hospitalidade são levantadas. Muito mais complexo que o simples receber, estas flores que agora habitam outros jardins não são vistas, muitas vezes, como tal, e sim, como ervas daninhas. O presente ensaio pretende “emoldurar”, com base na análise de comentários retirados do Web Mundo, a imagem do refugiado sírio contruída pelos nacionais portugueses. Pretende ainda analisar os confrontos enfrentados por estes refugiados durante o processo de socialização e sua experiência em relação ao chegar (acolhimento) e ao permanecer (hospitalidade), transpondo a instável ponte entre o “sejam bem-vindos” e os “refugiados de merda”.