O Ensino da Diversidade Cultural

O Ensino da Diversidade Cultural:

Contextos locais no Brasil e em Portugal


Artigo publicado por José Manuel Resende, Guilherme Paiva de Carvalho & Aline Raiany Fernandes Soares, em 2023, na Revista Educação em Debate.


Resumo:

O artigo trata do ensino da diversidade cultural em contextos locais no Brasil e em Portugal. Para tanto, a investigação utilizou uma abordagem qualitativa baseada em entrevistas semiestruturadas com professores/as de escolas públicas, em cidades localizadas nos dois países. A análise crítica das entrevistas tomou como referência perspectivas teóricas da Educação e das Ciências Sociais. Como problemas dentro e fora da escola, o reconhecimento e o ensino da diversidade cultural envolvem as noções de multiculturalidade e interculturalidade. No estudo sobre a diversidade cultural e os processos de escolarização, evidencia-se o conceito de cultura escolar. No caso português, tem-se observado a entrada de estudantes de diferentes países nas escolas públicas. Com a diversidade étnica na escola, a cultura escolar enfrenta problemas nos domínios dos sentimentos de pertencimento e na aprendizagem. No sistema educacional brasileiro, a inclusão da diversidade cultural no ensino é incipiente, sobretudo das culturas indígenas, africanas e afro-brasileiras. A análise conclui que, na contemporaneidade, o ensino da diversidade cultural constitui um desafio para a escolarização e os processos formativos em escolas públicas.

Pelas portas de vidro da internet:

Pelas portas de vidro da internet:

As examinações (in)comensuráveis da figura do estrangeiro


Artigo publicado por José Manuel Resende & Lucas Freitas de Souza, em 2019, na Revista Desenvolvimento e Sociedade.


Resumo:

Pensar a internet como uma porta de vidro, permite-nos conjeturar o que se passa do outro lado. Concebida a partir da metáfora porta de vidro enxergamos um mar de informações que nos levam a produzir sensações sobre o que se passa daquele outro lado. Somos presenteados com a possibilidade de avistar o outro através daquilo que ele ali posta com mais ou menos frequência. Por vezes somos privados de sentir o que realmente acontece na alteridade do ser que por ali navega através dos seus registos. Imagens, ora límpidas ora turvas, constroem uma realidade pluriforme. O ruído produzido pela internet acaba por gerar diversos sentimentos naqueles que, do outro lado da porta de vidro, olham atentamente para aquilo que ali tem estado a ser assinalado. Os exercícios interpretativos nem sempre resultam em acordo. Gestação de equívocos pode ser um daqueles resultados. Seja quais forem as gramáticas de razões ancoradas nas discórdias e em disputas vocabulares é sobre os seus efeitos atuantes que reside o nosso foco neste artigo. São vozes que se levantam, expondo os seus juízos e qualificações sobre os estrangeiros, mas outras tantas evitam entrar na conversa por meio da escrita, ou delas se desligam mostrando-se indiferentes às controvérsias entre o enfurecido e o manso. Assim, o artigo pretende analisar a representação construída pela figura do estrangeiro nas redes sociais em Portugal na peugada da listagem das (des) qualificações desenhadas nos textos sobre o outro que chega. É só da reciprocidade angular permitida pela porta de vidro que assenta os efeitos das trocas produzidas na Internet ou através da porta as circulações dão azo a travessias na ponte?

As flores do mal

“As flores do mal”:

A experiência da denegação do outro generalizado na internet


Artigo publicado por José Manuel Resende & Lucas Freitas de Souza, em 2019, na Revista Estudos de Sociologia.


Resumo:

Em proporções jamais vistas pela humanidade, a chegada da primavera árabe enfatizou o debate a respeito das migrações forçadas. O tema, agora em voga, são os refugiados. Fugindo do caos dos conflitos armados, são as flores de uma primavera de sangue e dor. Em busca de melhores condições de vida, mais de 68 milhões de pessoas migram de forma desordenada por todo o globo. A fuga deste conflito acaba por trazer à tona um novo conflito para seus atores. O partir, o chegar e o permanecer são agora o problema. Questões de acolhimento e hospitalidade são levantadas. Muito mais complexo que o simples receber, estas flores que agora habitam outros jardins não são vistas, muitas vezes, como tal, e sim, como ervas daninhas. O presente ensaio pretende “emoldurar”, com base na análise de comentários retirados do Web Mundo, a imagem do refugiado sírio contruída pelos nacionais portugueses. Pretende ainda analisar os confrontos enfrentados por estes refugiados durante o processo de socialização e sua experiência em relação ao chegar (acolhimento) e ao permanecer (hospitalidade), transpondo a instável ponte entre o “sejam bem-vindos” e os “refugiados de merda”.

A autoridade docente e os modos de agir no espaço escolar na interação professor-aluno

A autoridade docente e os modos de agir no espaço escolar na interação professor-aluno


Texto publicado por José Manuel Resende, Luís Gouveia & David Beirante, em 2022, nas Atas do III Colóquio Internacional de Ciências Sociais da Educação.


Resumo:

A massificação da escolarização constitui um elemento incontornável de enquadramento quando se analisa as sociabilidades no espaço escolar, trazendo o alargamento da escolaridade obrigatória profundas mutações para as interações que se desenrolam no quotidiano escolar. De um lado, a escola deixa de ser um espaço reservado para o trabalho, passando igualmente a ser um espaço de cultivo de sociabilidades e onde a cultura escolar coexiste com objetos oriundos da cultura massas. Por outro lado, este quadro de complexificação do quadro social estudantil é necessariamente acompanhado de uma complexificação do trabalho docente, nomeadamente, nas composições que presidem às formas de agir com os alunos, onde questões como a afetividade, enquadrada num envolvimento de proximidade, pode ser um elemento que assume relevo nas lógicas atuantes na relação com a figura do discente – formas de agir essas que se mostram compósitas e que não deixam de assentar em rotinas incertas e que transportam incertezas do ponto de vista das suas consequências e efeitos na relação com os alunos e o estatuto profissional dos docentes. Estendendo-se esta complexidade relacional aos vários momentos e espaços escolares, é na sala de aula enquanto território específico de interação que estas lógicas atuantes assumem também especificidades do ponto de vista das dificuldades e dilemas colocados ao professor, em particular, do ponto de vista da gestão da autoridade enquanto elemento central nas apreciações críticas destes profissionais relativamente ao seu quotidiano. É em resultados obtidos de uma tese de doutoramento (mas igualmente antecedida e com contributos de outras incursões nas escolas no âmbito de um programa de pesquisa mais abrangente) e que abarca diferentes técnicas de recolha e análise de dados – nomeadamente, entrevista semidiretiva e questionário por cenários – que a presente comunicação se fundamenta. Tendo na relação docente-discente uma dimensão central de análise, é a partir de um olhar praxeológico, centrado nas práticas e operações críticas dos atores, que se pretende evidenciar estas complexas composições nas formas de agir nas interações entre estes protagonistas.

Está o Governo da Escola sob o comando da norma padronizada?

Está o Governo da Escola sob o comando da norma padronizada?

Quando a crítica mordaz curto-circuita as ordens de grandeza das formas de governação


Artigo publicado por José Manuel Rezende, Luís Gouveia & David Beirante, em 2019, na Revista Sociologia Online.


Resumo:

O conjunto de mudanças que ocorrem nos sistemas educativos nas últimas décadas tem como vetor fundamental amudançadoprogramade justiça que orienta o seu funcionamento. Éo paradigma de escola eficaz que ganha paulatinamente terreno. Esta evolução no plano dos princípios de justiça e lógicas de funcionamento tem repercussões nas formas de exercício da atividade docente, enquanto pilar incontornável para a prossecução destas novas orientações. Ora, estas novas demandas não significam que elas sejam mecanicamente assimiladas por estes profissionais. É perscrutável uma diversidade de lógicas atuantes, assentes em diferentes composições de regimes de envolvimento na ação, no exercício da atividade, e que entram em tensão de diferentes formas com as lógicas performativas incrustadas no funcionamento do sistema educativo. Alguns dos dados recolhidos no âmbito deumprojeto de investigação fornecem o suporte empírico para as indagações que se pretendem desenvolver sob um enfoque teórico de cariz pragmatista.

Educação Literária

Educação Literária:

controvérsias pedagógicas entre o Ministério da Educação e da Ciência e a Associação de Professores de Português


Artigo publicado por José Manuel Resende & José Maria Carvalho, em 2019, na Revista Pedagogía y Saberes.


Resumo:

A disputa suscitada pela reformulação do programa do ensino língua portuguesa no Ensino Secundário é objeto do artigo. Esta reforma é testada pelo Ministério da Educação de Portugal em 2013. Das controvérsias suscitadas pelas mudanças introduzidas, elege-se como objeto de disputa o Ensino Literário e os critérios destinados à escolha das obras literárias a adotar nas escolas. O desenho do Programa é sujeito a uma discussão acesa entre atores credíveis. Ensaia-se no artigo uma reflexão combinada com uma pesquisa exploratória e se escolhem as controvérsias insurgidas pela Associação de Professores de Português por contraposição às orientações emanadas de cima. Da discussão ressalta a oposição sobre o cânone como critério de escolha das obras e sobre o modo como a inferência pode ser operada numa escola massificada e com a obrigatoriedade escolar prolongada até ao 12° ano.

O que deixar por dizer quer dizer

O que deixar por dizer quer dizer:

o segredo na prática da pintura


Artigo publicado por José Manuel Resende & José Maria Carvalho, em 2023, na Revista Sociedade & Cultura.


Resumo:

Partindo de uma pesquisa etnográfica junto de um atelier de pintura que decorre numa instituição de apoio social e psiquiátrico, propõe-se uma reflexão sociológica em torno da noção de segredo. Sob orientação das sociologias pragmatistas e fenomenológicas, e enfocando o caso de um pintor abstrato, Bonifácio, entende-se o segredo como forma de sociação e experiência situada e relacional. Do estudo que se segue, perceber-se-á como a formação e manutenção do segredo assenta na relação que o pintor estabelece com as suas telas, abrindo para modalidades de subjetivação capacitantes que escasseiam na instituição. De um lado, o segredo é desencadeado pela relação de responsabilidade moral mantida entre o artista e a obra, desenhando-se assim um espaço de interioridade subjetiva, por outro lado, a tela é passível de usos táticos por parte do pintor, gerando um espaço intercalar que lhe permite acomodar a sua singularidade nas sociabilidades estabelecidas.

Pintar quanto antes

Pintar quanto antes:

a exploração criativa da ação conveniente no atelier de pintura do Pisão


Artigo de José Manuel Resende e José Maria Carvalho, publicado na Revista AntroPolítica, em 2022.


Resumo:

No decurso de uma pesquisa etnográfica desenvolvida em contexto de institucionalização devido a patologias do foro psiquiátrico, pudemos constatar que a prática artística, nomeadamente a pintura, desempenha um papel importante no processo de capacitação para a autonomia dos residentes internados. Com efeito, a tendência das políticas públicas das últimas décadas tem privilegiado o regime de envolvimento em plano junto das populações mais vulneráveis. Assim sendo, caberá aos técnicos profissionais identificar o grau e natureza da dependência em causa e atuar em conformidade, visando a autonomização destas. Partindo do caso de um pintor abstrato, Leopoldo, e recorrendo a algumas anotações de Diário de Campo, ensaia-se uma análise pragmaticamente inspirada acerca da variedade de envolvimentos presentes nas situações em que a atividade da pintura se desenvolve. O caso de Leopoldo mostrará que, contrariamente ao gesto de pintar, no qual revela autonomia, há inquietações e dificuldades, antes e após a pintura, em torno da utilização dos materiais necessários, que pertencem à instituição. A coexistência, transições e articulações entre esses vários envolvimentos na experiência pictórica é o leitmotiv do texto que se segue.

O riso sem siso

O riso sem siso:

No corpo encadeado na experiência situada há espaço à excrescência


Texto de José Manuel Resende & José Maria Carvalho, publicado como capítulo no livro «Migração, Educação e Sistema de Justiça Penal: Passado, Presente e Futuro», organizado por Marco Ribeiro Henriques & Ana Guerreiro, em 2022.


Resumo:

O projeto CORPOEMCADEIA intervém junto de uma população de reclusos do Estabelecimento Prisional do Linhó através da dança. Tendo por mote um momento específico ocorrido numa das sessões na prisão, captado durante a pesquisa etnográfica que se tem vindo a realizar, sugere-se uma leitura sociolótiga de orientação pragmatista do fenómeno do riso humorpistico. Atenta às dimensões fenomenológica e existencial que particularizam a experiência do humor, negligenciadas por boa parte da produção sociológica sobre o assunto, não descura as situação concretas em que os atores se engajam na coordenação do curso da ação coletivamente, mas também consigo mesmo. Assim se intenta mostrar como a ambiguidade e duplicidade inerentes ao humor não são um obstáculo a ultrapassar completamente, o que conlocaria um ponto final no mesmo. Aqui, ela são afirmadas enquanto tais, colorindo a situação e relevando do caráter sequencial da ação. Quando assim é, ver-se-á instaurar um espaço ficcional que confere um caráter lúdico às consequências da ação, onde a presença dos participantes se consubtancia sob a forma de uma semi-crença. Finalmente, aproximar-se-á a experiência do riso humorístico à improvisação artística, um dos pilares no qual se apoia o projeto estudado para atingir os objetivos a que se propóe.

Transitar no habitar e habitar transitando:

Transitar no habitar e habitar transitando:

nos rastos da experiência criativa de um pintor abstrato residente no Pisão


Artigo publicado por José Manuel Resende & José Maria Carvalho, em 2021, na Revista Sociedade e Estado.


Resumo:

Tendo por fito a atividade de pintura abstrata de um residente numa instituição de apoio social, ensaiamos uma leitura a partir de uma pesquisa etnográfica de pendor pragmático-fenomenológico em curso que enfatiza a centralidade dos efeitos de temporalização na coordenação da ação situada. A experiência criativa inerente ao curso da ação da pintura requer que os atores que nela se envolvem se sincronizem e orientem, pelo que nos propomos identificar e descrever a pluralidade de temporalidades que pautam a pintura, bem como a malha de operações corporais, gestuais, objetais e discursivas que as imbricam.