Educação Literária

Educação Literária:

controvérsias pedagógicas entre o Ministério da Educação e da Ciência e a Associação de Professores de Português


Artigo publicado por José Manuel Resende & José Maria Carvalho, em 2019, na Revista Pedagogía y Saberes.


Resumo:

A disputa suscitada pela reformulação do programa do ensino língua portuguesa no Ensino Secundário é objeto do artigo. Esta reforma é testada pelo Ministério da Educação de Portugal em 2013. Das controvérsias suscitadas pelas mudanças introduzidas, elege-se como objeto de disputa o Ensino Literário e os critérios destinados à escolha das obras literárias a adotar nas escolas. O desenho do Programa é sujeito a uma discussão acesa entre atores credíveis. Ensaia-se no artigo uma reflexão combinada com uma pesquisa exploratória e se escolhem as controvérsias insurgidas pela Associação de Professores de Português por contraposição às orientações emanadas de cima. Da discussão ressalta a oposição sobre o cânone como critério de escolha das obras e sobre o modo como a inferência pode ser operada numa escola massificada e com a obrigatoriedade escolar prolongada até ao 12° ano.

O que deixar por dizer quer dizer

O que deixar por dizer quer dizer:

o segredo na prática da pintura


Artigo publicado por José Manuel Resende & José Maria Carvalho, em 2023, na Revista Sociedade & Cultura.


Resumo:

Partindo de uma pesquisa etnográfica junto de um atelier de pintura que decorre numa instituição de apoio social e psiquiátrico, propõe-se uma reflexão sociológica em torno da noção de segredo. Sob orientação das sociologias pragmatistas e fenomenológicas, e enfocando o caso de um pintor abstrato, Bonifácio, entende-se o segredo como forma de sociação e experiência situada e relacional. Do estudo que se segue, perceber-se-á como a formação e manutenção do segredo assenta na relação que o pintor estabelece com as suas telas, abrindo para modalidades de subjetivação capacitantes que escasseiam na instituição. De um lado, o segredo é desencadeado pela relação de responsabilidade moral mantida entre o artista e a obra, desenhando-se assim um espaço de interioridade subjetiva, por outro lado, a tela é passível de usos táticos por parte do pintor, gerando um espaço intercalar que lhe permite acomodar a sua singularidade nas sociabilidades estabelecidas.

Pintar quanto antes

Pintar quanto antes:

a exploração criativa da ação conveniente no atelier de pintura do Pisão


Artigo de José Manuel Resende e José Maria Carvalho, publicado na Revista AntroPolítica, em 2022.


Resumo:

No decurso de uma pesquisa etnográfica desenvolvida em contexto de institucionalização devido a patologias do foro psiquiátrico, pudemos constatar que a prática artística, nomeadamente a pintura, desempenha um papel importante no processo de capacitação para a autonomia dos residentes internados. Com efeito, a tendência das políticas públicas das últimas décadas tem privilegiado o regime de envolvimento em plano junto das populações mais vulneráveis. Assim sendo, caberá aos técnicos profissionais identificar o grau e natureza da dependência em causa e atuar em conformidade, visando a autonomização destas. Partindo do caso de um pintor abstrato, Leopoldo, e recorrendo a algumas anotações de Diário de Campo, ensaia-se uma análise pragmaticamente inspirada acerca da variedade de envolvimentos presentes nas situações em que a atividade da pintura se desenvolve. O caso de Leopoldo mostrará que, contrariamente ao gesto de pintar, no qual revela autonomia, há inquietações e dificuldades, antes e após a pintura, em torno da utilização dos materiais necessários, que pertencem à instituição. A coexistência, transições e articulações entre esses vários envolvimentos na experiência pictórica é o leitmotiv do texto que se segue.

O riso sem siso

O riso sem siso:

No corpo encadeado na experiência situada há espaço à excrescência


Texto de José Manuel Resende & José Maria Carvalho, publicado como capítulo no livro «Migração, Educação e Sistema de Justiça Penal: Passado, Presente e Futuro», organizado por Marco Ribeiro Henriques & Ana Guerreiro, em 2022.


Resumo:

O projeto CORPOEMCADEIA intervém junto de uma população de reclusos do Estabelecimento Prisional do Linhó através da dança. Tendo por mote um momento específico ocorrido numa das sessões na prisão, captado durante a pesquisa etnográfica que se tem vindo a realizar, sugere-se uma leitura sociolótiga de orientação pragmatista do fenómeno do riso humorpistico. Atenta às dimensões fenomenológica e existencial que particularizam a experiência do humor, negligenciadas por boa parte da produção sociológica sobre o assunto, não descura as situação concretas em que os atores se engajam na coordenação do curso da ação coletivamente, mas também consigo mesmo. Assim se intenta mostrar como a ambiguidade e duplicidade inerentes ao humor não são um obstáculo a ultrapassar completamente, o que conlocaria um ponto final no mesmo. Aqui, ela são afirmadas enquanto tais, colorindo a situação e relevando do caráter sequencial da ação. Quando assim é, ver-se-á instaurar um espaço ficcional que confere um caráter lúdico às consequências da ação, onde a presença dos participantes se consubtancia sob a forma de uma semi-crença. Finalmente, aproximar-se-á a experiência do riso humorístico à improvisação artística, um dos pilares no qual se apoia o projeto estudado para atingir os objetivos a que se propóe.

Transitar no habitar e habitar transitando:

Transitar no habitar e habitar transitando:

nos rastos da experiência criativa de um pintor abstrato residente no Pisão


Artigo publicado por José Manuel Resende & José Maria Carvalho, em 2021, na Revista Sociedade e Estado.


Resumo:

Tendo por fito a atividade de pintura abstrata de um residente numa instituição de apoio social, ensaiamos uma leitura a partir de uma pesquisa etnográfica de pendor pragmático-fenomenológico em curso que enfatiza a centralidade dos efeitos de temporalização na coordenação da ação situada. A experiência criativa inerente ao curso da ação da pintura requer que os atores que nela se envolvem se sincronizem e orientem, pelo que nos propomos identificar e descrever a pluralidade de temporalidades que pautam a pintura, bem como a malha de operações corporais, gestuais, objetais e discursivas que as imbricam.

Os filhos de um deus menor:

Os filhos de um deus menor:

de arisco à chegada à acolhida pela philia


Artigo publicado por José Manuel Resende & José Maria Carvalho, em 2021, na Revista Vértices.


Resumo:

O alargamento da escolarização obrigatória e a tendência dos fluxos migratórios registada em Portugal neste século confrontamnos com a questão do acolhimento dos alunos estrangeiros na escola. A partir de uma pesquisa empírica em duas escolas do ensino Secundário situadas na área metropolitana de Lisboa, e com recurso a dados provenientes da observação etnográfica e da aplicação de entrevistas semidiretivas, propõe-se uma reflexão em torno das artes de fazer e refazer o comum no plural a partir da figura do estrangeiro. As sociabilidades escolares entre pares e o estabelecimento de relacionamentos de amizade e filiais afigurou-se um ponto de entrada profícuo para compreender os processos de acolhimento daqueles que, porque pouco familiarizados com a escola portuguesa, enfrentam situações de inevitável ansiedade e incerteza num período crítico das suas vidas, a adolescência.

O Bulício Provocador

O Bulício Provocador:

Forma desajeitada de demanda de consideração?


Artigo publicado por José Manuel Resende & José Maria Carvalho, em 2021, na Revista Análise Social.


Resumo:

A experiência escolar é capital nas trajetórias dos jovens, capacitando-os desejavelmente para aceder aos mundos dos adultos. Nela, o relacionamento entre professor e aluno, nos seus múltiplos ajustamentos possíveis, ocupa um lugar de charneira. A redução da distância entre ambos é uma maneira de conservar a novidade que as novas gerações trazem. De dois casos empíricos ocorridos em aula, captados recentemente por entrevista e observação direta, sublinham–se as habilidades provocadoras reveladas por alunos no (des) ajuste daquele relacionamento. Partindo de uma sociologia pragmatista, ressalta a incapacidade de o professor integrar nas aulas os efeitos subjacentes à imprevisibilidade de certas ações dos adolescentes.